Dalal Achcar
Bailarina e coreógrafa
Nora Esteves sempre foi um exemplo de profissionalismo como bailarina. Sua perfeição técnica, aliada à sua inteligência, disciplina e dedicação inspiram e estimulam à todos os coreógrafos e ensaiadores. Foi sempre um prazer trabalhar com uma artista desta qualidade em todas as obras criadas por mim que ela interpretou , como “A Floresta Amazônica”, "O Quebra Nozes" e “ Don Quixote”.
DEPOIMENTOS
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Deborah Colker
Coreóragafa e bailarina
Tive a oportunidade e a honra de trabalhar com Nora Esteves no Theatro Municipal do Rio de Janeiro na remontagem da coreografia Paixão que fiz em 1994 para minha companhia. A união da experiência, técnica e personalidade que pude trocar com essa bailarina foi muito gratificante. Além disso, hoje temos Nora dando aula na escola de movimento, formando alunos com sua seriedade, precisão, técnica e experiência. Contar com essa bailarina que faz parte da história da dança no Brasil é valioso.
"O Combate"
de Raffaello de Banfield
Eliana Caminada
Bailarina, professora de história da dança e crítica de ballet.
Quando conheci Nora Esteves, minha companheira de adolescência e amiga, ela já era reconhecidamente uma criança prodígio. Um prodígio que, esclareça-se, corresponde, até hoje, às expectativas que sempre despertou no mundo da dança.
Nora nasceu predestinada: a par dos óbvios pré-requisitos naturais, tinha talento, ao qual aliava uma férrea e indestrutível disciplina, qualidade que a acompanha pela vida afora. Nora é detalhista, é a imagem da determinação.
A dança retribuiu essa disponibilidade assegurando-lhe, talvez, a mais longa e ininterrupta carreira de nossa história.
Não cabe nesse depoimento discorrer sobre os inúmeros papéis que interpretou, os fabulosos coreógrafos com os quais trabalhou, as companhias de peso que integrou; isso é parte de seu currículo e ele é tão rico que só pode ser elaborado por ela mesma. Mas vale registrar minha perplexidade e admiração ao vê-la estrear como primeira-bailarina, aos 17 anos, dançando sob a direção de William Dollar, sua mais importante obra: “O Combate”. Somos contemporâneas, por isso, para mim, era extraordinário ver sua maturidade e coragem de enfrentar tais desafios.
Nora continua me surpreendendo, seja como bailarina, ainda atuante, seja como professora, ensaiadora e coreógrafa. Uma profissional completa, brasileiríssima na sua opção por permanecer no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que merece de seus colegas, de sua companhia, de sua Pátria, todas as homenagens. E de mim, a reafirmação de minha amizade e admiração por sua bela trajetória de vida.
Emilio Martins
Ex Primeiro Bailarino do Ballet do Theatro Municipal e hoje coreólogo do ballet "La Fille Mal Gardée" de Sir Frederick Ashton
Nora Esteves é Primeira Bailarina no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Desde muito cedo mostrou seu talento nato. Estudamos na mesma Academia de Dança e tivemos como professora Tatiana Leskova.
Num dos Festivais de fim de ano da Academia, dona Tania coreografou uma suite de "Sonho de Uma Noite de Verão" com a música de Mendelssohn e o prelúdio para trompa foi um "pas-de-deux" para Nora e para mim, meu primeiro "pas-de-deux" e com isto me tornei o primeiro partnaire de Nora.
Ficamos profissionais no Ballet do Theatro Municipal e por diversas vezes voltamos a dançar juntos. Muito menina Nora recebeu o título de Primeira Bailarina. Nora ilustrou uma aula de ballet clássico num DVD e eu fui convidado para fazer a direção artística deste DVD, trabalho este que me deu muito prazer.
Nora frequentou muito minhas aulas no Studio 88 e para mim era muito bom ditar aula para uma bailarina profissional tão super bem dotada e para os alunos aprendizes era um estímulo dos grandes. Nossa amizade é grande e constante.
Eugenia Feodorova
Professora e coreógrafa
Dotada de excepcionais dotes para a dança clássica e extremamente musical, Nora Esteves é seguramente uma das mais destacadas artistas do nosso ballet. Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, interpretou ao longo de sua carreira, com grande sucesso, todos os principais papéis do repertório clássico. Elegante, culta e muito disciplinada tanto em sua arte quanto em sua vida, Nora Esteves honrou com muito valor sua posição de Primeira Bailarina, sendo exemplo para qualquer companhia de ballet.
Tatiana Leskova
Professora e coreógrafa
Quando chegou na minha Academia uma menina chamada Nora, vi em seu corpinho de “Bailarina de Degas”, as qualidades e os dotes excepcionais, necessários para no futuro se tornar uma bailarina profissional. Nora, desde pequena, foi sempre séria, disciplinada e honesta no seu trabalho, e com isso rapidamente fez enormes progressos, alcançando merecidamente a posição de Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro aos 17 anos de idade.
Com coragem e determinação (ainda adolescente) viajou para o exterior em busca de maiores conhecimentos e oportunidades, dançando em Nova York no Joffrey Ballet. Mais tarde, na Europa, já como Primeira Bailarina no Ballet de Marseille de Roland Petit, Ballet de Nancy e na Companhia de Robert Hossein, assim como guest em várias cidades e teatro na Itália.
Uma bonita carreira internacional de uma bailarina brasileira, que ao voltar ao Brasil continou a brilhar como Primeira Bailarina no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, dançando ballets de repertório e modernos dos melhores coreógrafos estrangeiros e brasileiros. Atualmente Nora transmite seus valiosos conhecimentos para as novas gerações de bailarinas do País.
Estou feliz em ver esta menina que chegou na minha Academia aos 8 ou 9 anos, ser o que ela é hoje... parabéns!
Maribel Portinari
Jornalista, escritora, chevalier de l'ordre des arts et des lettres.
Formada pela Escola de Dança Maria Olenewa, no Rio, a gaúcha Nora Esteves entrou para o Ballet do Theatro Municipal em 1965. Pouco depois passou um ano com o Joffrey Ballet de New York como bolsista, participando também do conjunto profissional. De volta ao Rio, revelou-se em obras importantes como "O Combate", "Daphnis et Chloé" e "O Pássaro de Fogo".
Físico longilíneo, raridade na época entre bailarinas brasileiras, técnica forte e segura, ela impresssionou o coreógrafo George Skibine que a levou para a França. Ali, Nora trabalhou com o Ballet Populaire de Reims, fazendo o papel-título de "Sheherazade". Ela também trabalhou com outras companhias como Les Ballets de Marseille, Ballet Théâtre de Nancy. Ballet de Munich e Ballet do Teatro Massimo de Palermo. Retornou ao Municipal carioca, em ótima fase, sob a direção de Dalal Achcar desde 1981.
Nora dançou então o repertório tradicional: "Coppélia", "Lago dos Cisnes", "Giselle", "Dom Quixote", sempre obtendo muito êxito. Dalal Achcar deu-lhe o principal papel de "Floresta Amazônica" (versão 1985), obra que havia sido criada por Margot Fonteyn. Suplantando um problema grave no tendão de Aquiles, Nora voltou a dançar com a mesma técnica de sempre. Permanece no Ballet do Municipal e recentemente também fez a coreografia do musical "Império", sucesso de público e crítica.
Marcelo Misailidis
1º Bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Estava lembrando em você Nora, e por algum motivo que não sei porque, antes mesmo de recordar tantas situações que vivemos juntos surgiram temas e personagens mitológicos que povoaram súbitamente meu pensamento como Aquiles, o invencível guerreiro grego que invadiu Tróia, um semi-deus dos contos mitológicos descritos nos Ilíadas de Homero.
Intrigado busquei compreender o que isso tinha haver pra mim de modo inconsciente em relação a você, a nossa convivência, e aquilo que você representa para todos nos que vivemos a dança como parte indivisível de nós mesmos.
Não foi difícil perceber que a analogia comparativa associava a trajetória mitológica a uma imagem que você se enquadra de modo absolutamente preciso, porque de certo modo você traduz no imaginário de quem presenciou sua carreira, uma artista que em seu apogeu e muito além dele, parecia tocada por deuses, de uma precisão quase desumana, a frente do seu tempo, infalível, incansável, exótica, inabalável e eternamente jovem; quem mais seria capaz de tantas virtudes e ao mesmo tempo humana e mulher...Nora Esteves.
Querida amiga, embora eu tenha descendência grega, você foi a primeira que me levou ao Olimpo, somente alguém como você, guerreira invencível de “Combate” balé que tanto fala de você, e dos pampas gaúchos que nunca saíram de ti, me orgulho profundamente de ter sido com você minha primeira experiência de me apresentar com uma estrela, uma bailarina de primeiríssima grandeza, com um curriculum inquestionável.
Eu tinha aproximadamente vinte anos quando nosso querido mestre Desmond Doyle me propôs ser seu partner e dançar a seu lado na ABRJ (Associação de Balé do Rio de Janeiro), Cia. que foi berço artístico de tantos nomes representativos na dança e história de valor memorável, realmente tem coisas que muito tempo depois eu acho até uma heresia terem me dado tamanha responsabilidade, ou talvez coisa do destino, ou coisa de lenda, histórias de humanos e semi-deuses ou deusas como você, histórias que eu vivi a seu lado e escreveram um dos mais belos capítulos da minha vida, e me impulsionaram a posteriormente seguir uma trajetória que certamente não teria o mesmo valor sem sua imprescindível presença.
Sua história e suas façanhas hão de viver para sempre, e se espalham neste imenso país que você tanto se apresentou, e levou ainda para outros cantos do mundo uma imagem de que aqui também nascem deusas da dança, imortalizada na memória de todos que interceptaram em algum momento seu caminho, seja no palco, numa sala de aula ou como público na platéia de alguma apresentação sua; aquela bailarina certamente pareceria Aquiles, uma guerreira inabalável.
Paulo Barcelos
A belíssima e nobre arte do ballet cativou multidões no mundo inteiro por sua mensagem e linguagem universais. A dança constitui um idioma compreensível a qualquer nação, pela capacidade expressiva dos movimentos do corpo, que faz entender desde um sentimento até um enredo completo, a qualquer platéia do mundo.
O ideal de expressar-se através da dança é uma grande vocação, irreprimível e irreversível, um compromisso existencial, perceptível desde cedo em uma vida humana, como uma missão perante ao próximo e à humanidade.
O Brasil produziu notáveis figuras no ballet, que é uma das formas de arte que maior público e maior entusiasmo geram até os dias de hoje, não obstante o imediatismo exacerbado da época atual. Toda técnica pede tempo para ser construída e por isso mesmo reflete que a profundidade da natureza humana e suas mais elevadas aspirações continuarão a existir, acima de ordens e urgências midiáticas, enquanto o ser humano existir sobre a face da terra.
Nenhum furor da mídia poderá fazer prescindir os anos necessários à formação de um artista sério e responsável, nem roubar o discernimento das platéias, mesmo as menos cultivadas, de quando se defrontam com a mais alta qualidade – esta, possui peso e medida.
No Brasil destacaram-se vários artistas de ballet, porém existem sempre, como em qualquer lugar do mundo, alguns nomes à parte, mesmo na lista dos melhores. Essa natureza ou espécie artística é algo tão grande, que nada a pode deter em seu caminho, nem encobrir a sua importância.
Um desses nomes é certamente o da bailarina Nora Esteves. Desde sua adolescência, quando já havia logrado sua formação básica, Nora chamou a atenção geral pelo alto grau de acabamento técnico, de expressão, de maturidade profissional e capacidade de tudo sublimar e reunir em uma alta realização artística, característica comum a grandes bailarinas já muito experientes e com anos de atividade em palco.
Uma força superior a arrancava do conjunto do corpo de baile e a induzia aos papéis onde Nora tinha o que dizer de seu e de si.
Sua excepcional natureza para a dança, seu empenho e compromisso com o ballet, seu perfeccionismo a todos os níveis do métier transmutaram sua grande vocação a uma identidade artística cumprida no mais superlativo grau, tornando toda e qualquer aparição sua em cena algo de grande importância e conseqüência, pelo alcance universal de tudo o que Nora faz, como cartas registradas enviadas para a humanidade.
Se isso já era assim antes de Nora sair do Brasil, a altura a que ela chegou com sua vivência em grandes companhias estrangeiras, na Europa e nos Estados Unidos e com a influência de grandes mestres e coreógrafos, foi bem maior, mantendo o compromisso com a mais profunda verdade, através de dança, como tônica em sua personalidade e em sua vida, registrando universalmente sua contribuição pessoal, já em estágio de cristalização.
As características mais flagrantes de Nora Esteves em cena são: a desenvoltura, o domínio do métier, harmonia e acabamento das realizações, expressão sublimada, renovação de tudo o que o público pensava já conhecer, presença cintilante, sentido rítmico perfeito, emanação vibratória de seus gestos, que vem do interior, interior cultivado, desmaterialização do corpo para uma entidade etérea, em fenômeno de volatilização, e a versatilidade do espectro dramático, alcançando desde a candura ou a fatalidade do Eterno Feminino, até a Persona Trágica de um personagem, seja em coreografias clássicas ou vanguardistas, e por fim, a extrema responsabilidade na entrega das mensagens artísticas. Quando o pano caía, Nora podia tranquilamente assinar o que fizera. Quando Nora Esteves está em cena, o público não se lembra de nenhuma outra bailarina, fato característico dos grandes artistas.
A contribuição cultural e artística de Nora Esteves é incalculável, no Brasil e no exterior. Para ela, grandes mestres criaram e remontaram coreografias notáveis, onde Nora mostrou-se inteiramente à vontade e livre para criar, cumprindo assim todo o seu potencial artístico. A grande Nora Esteves, bailarina de quem desde cedo tanto se esperava, é um desses raros casos de que pode se dizer ter-se cumprido inteiramente. De Giselle a Clorinda, de Odette a Odile, de Sheherazade a Per Viola, de Cantabile a Floresta Amazônica, entre tantos títulos nos mais diversos palcos do mundo, Nora encantou platéias e críticos dentro do mais alto grau de exigência, exigência essa sempre menor do que a que Nora impôs a si mesma.
Coreógrafa e pedagoga de ballet, Nora demonstrou parte de seu conhecimento no vídeo Nora Esteves in foco, o primeiro vídeo de ballet clássico feito no Brasil, com o apoio da Lei Rouanet. Com uma tranqüilidade que muito poucas bailarinas poderiam exibir, Nora ministra neste vídeo aulas de ballet de nível médio e adiantado, em uma entrega generosa a novos valores da dança, dos passos e princípios básicos, alertando o que é certo e o que é errado, demonstrando ela mesmo cada um dos exercícios em uma exposição pessoal mais comprometedora do que dançar qualquer ballet.
Como um grande mestre oriental, Nora transmite conhecimentos a iniciantes e iniciados em atmosfera de meditação transcendental, realizando suas aulas em clima da mais alta harmonia, segurança e serenidade, características do grande saber.
Nora prossegue suas atividades de pedagoga em estabelecimentos do Rio de Janeiro e como professora convidada em outros estados e países. É especialmente querida por seus alunos, por ser um dos raros mestres que realmente sabem e realmente querem fazer os alunos aprender e desenvolver-se, um mestre que dá o que tem e tudo compartilha com seus alunos.
De poucos artistas se pode dizer, como é o caso de Nora Esteves, que tenham enriquecido tanto a sua época, com suas altas realizações, e que tenham ao mesmo tempo, com seu exemplo, desbravado e indicado tantos caminhos para o futuro, tanto da dança como das vocações.